A chuva desabava dentro - e fora - como as lágrimas proibidas que transportavam seu olhar para a vidraça, que era violentamente golpeada pela tempestade. O vento possante arrebatava as árvores à medida que seu peito pulsava irascível à meia luz da sala de estar. Era uma tarde cinzenta. Ele estava sentado na poltrona de couro, perto da janela, navegando em seu universo particular. Despretensiosamente, suas mãos começaram a deslizar nas cordas do violão. Ela podia sentir - ainda mais intensamente - a tempestade que se fazia entre eles. Ouvia-se o silêncio das paredes, o ritmo de sua respiração guando da boca de seu amor, saia o canto de sua voz. E pensou, talvez: “Você quer gritar! E eu quero fugir, onde haja algum lugar onde possamos nos salvar de nós e do tempo.” Foi quando ele lançou um olhar de honestidade impetuosa, rasgando-lhe o peito e a ferida. Mas ainda que nesse laço – tantos espaços sem ternura – eis que naquela sala, à meia luz, ele lhe sorriu. Outra canção. Desta vez, era só para ela: olhos nos olhos. O som das cordas inebriava seu corpo e sua voz era como o canto dos anjos:
O som da sua música invandiu seus poros e os cômodos do apartamento.
E só havia
amor.
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