DO SONHO

Joguei fora tudo o que você não me deixou. Deixei para trás tudo a que você me condenou. E, no fim, você nunca entendeu. Você nunca foi capaz de perceber que, onde você via apenas raiva, era amor. Era uma vontade louca e irrefreável de te dizer "eu estou aqui". Você não notou o meu esforço para nunca deixar de ser. E, assim, me moldou, me transformou, me entristeceu. E eu fui. Mas fui não sendo. Fui, deixando para trás as coisas em que eu acreditava. Caminhei ao seu lado, abandonando pelo caminho tudo o que me construiu. Eu ruí. Como pedra gasta pela água, eu me entreguei, me rendi. E tive de retornar, sozinha, todo esse caminho que percorremos. Juntos? Precisei buscar minuciosamente cada pedaço que larguei enquanto te acompanhava. Tive de escolher quais ainda serviriam, quais eu não queria mais. E você continuou exigindo, sem nada dizer, cobrando, sem jamais pronunciar palavra, julgando, sem sequer precisar emitir qualquer som para isso. Sob o crivo do teu olhar severo, eu fui. Fui tudo o que não era. Agora não sou mais