Pequenso detalhes......

" E la em baixo....uma rede de anjos amparava nossa
queda... (Caio Fernando Abreu )











terça-feira, agosto 28, 2012

MF

Como será que vemos nossa vida quando ela não existe mais? Como será querer voltar para um corpo que não é mais ativo, que foi incinerado, deteriorado. Como morrer e não ter a sensação de que foi interrompido? Ando as voltas com as mortes, física e emocional. Ando me perguntando os porquês dessas dilacerantes consequências do viver. Do se aventurar, do acreditar. Como aproveitar melhor esse tempo antes que viremos nada. Uma alma vaga por ai. Tão impetuosa quanto sua matéria. Quer voltar mais não pode. Quer reviver, mas não sabe como. Como ajuda-lá? Queria poder. Queria poder dizer que você está melhor que nós – sempre tento me convencer disso. Que a vida é tão caótica, perturbadora e nos revela tão falível, que talvez não saibamos o que fazer aqui. Queria poder dizer que nada podemos fazer quando o corpo pifa. A máquina quebra. As peças se soltam. Os sonhos se desfazem. Queria te ajudar e te acolher nesses dias em que todos permanecem assustados com sua ausência. Dizer que o sentimento é recíproco e todos querem sua vida de volta. Quere te possuir, cada qual a seu modo. Não bebê, você terá que ser valente sozinho. E retroceder, e aceitar e renunciar, recuar… Sua vida sem você é o que fica aqui para nós. Os que sobram. Se eu pudesse te oferecer outras opções. Se a “vida” permitisse tantas possibilidades. Não queira voltar. Todos deveram aprender a viver sem você. É a lei a que estamos subjulgados. Como bater de frente a ela? Estou aprendendo a viver sem a possibilidade que você desnudou na minha frente. Sigo com seus pensamentos, aprendizados? Creio que sim. Existe outros que viveram seu corpo ardente de vida, tesão, pulsão. Há também os que não poderão contar com a possibilidade do seu sim, um dia. Sua família irá se redescobrir sem você por aqui, ou então sucumbir. O que você poderia fazer? Até quando? A vida é feita de perdões e recomeços e quem perdoará eles? Quem te perdoará querido? Amigos enlouquecidos pela sua ausência vagam a procura de consolo, conforto e fuga, mas eles também precisam crescer e encaras as próprias escolhas, o passado, os erros, os medos. Terão que aprender a se reinventar – o quanto eu pedi a Deus que te desse essa chance… Sua morte irá gerar tantas mudanças por aqui, que justifica não ser em vão. Ninguém queria que aquele poste tivesse brecado você. Ele parou você e no minino meia dúzia de pessoas. Todos impactados pela forma brusca que sua vida foi ceifada. Reconstrua sua trajetória “por ai”. Aceite que por hora é isso. Não temos escapatórias, nem vivo e nem morto – estamos todos no abatedouro iludidos com o controle da situação. Tontos de falsas ilusões. Tudo mentira. É tudo mentira. Mas como conviver com essa impossibilidade de se iludir? Penso que agora você pode me ver, me observar. Olhar com propriedade os seus. Rever os passos, as cabeçadas que tanto damos e vamos dar. Você pode proteger alguns, por ai? Somos touros amestrados, bichos irracionais, iguais aqueles que você tanto gostava. Escrevendo queria te a ilusão que você me “ouve”. Como se fosse uma prece, igual a que rezo todas as noites e peço por ti. Quero que se sinta acolhido, amado, reverenciado. Você não pode voltar, mas um dia todos iremos embora. Quem sabe um dia o tal encontro não acontece? É com pesar que te escrevo, mas não pode. Não é certo. Não pode haver lágrimas, lamentos, dores arrastadas, senões. Queria poder contar com sua esperança louca e necessária. Talvez nunca mais um sagitariano na minha vida. Que mais vai querer me levar ao Canadá? Talvez nunca mais uma possessividade tão festiva e ansiosa de gozo, alegria e festa. Minha vida segue um pouco sem mim, sem você, sem seu amigo, suas particularidades. Sua trajetória segue sem você, sem mim, sem os seus. Mas ambos estamos sós, ok? Você não está sozinho em sua solidão. Tentemos lidar com isso cada qual com os seus recursos. Que isso que chamamos de alma, a sua, seja esburacada de luz e energia boa e que ela te aqueça e te faça trabalhar o desapego. Porque nós, querido, estamos para sempre refém de sua história. Sem misericórdia.

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