Pequenso detalhes......

" E la em baixo....uma rede de anjos amparava nossa
queda... (Caio Fernando Abreu )











sexta-feira, junho 24, 2011

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....Santo Antonio ,Ubatuba , uma floresta ..uma trilha quem sabe? Ela me diz, loira e se achando ferina, e eu respondo por que não? mas inabalável continua: você pode pelo menos mandar cartões-postais de lá, para que as pessoas pensem nossa, como é que ela foi parar naquel trilha , naquela montanha , que mulher louca essa, hein, e morram de saudade, não é isso que te importa? uma certa saudade: de braços abertos , brincando de Loreena, que nem foi tão longe, para que todos lamentem ai como ela era bonzinha e nós não lhe demos a dose suficiente de atenção para que ficasse aqui entre nós, flores , hortaliças roça e simplicidade

Sem parar, abana-se com a capa do cd do Keane sua nova trilha sonora enquanto fuma sem parar e bebe sem parar seu wiski com red bull . Quanto a mim, a voz rouca,ja estou veio mesmo fico por aqui comparecendo a atos públicos, entre uma e outra , falamdo contra usinas nucleares, em plena ressaca,e voce..... um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de Tereza de Calcutá, um dia como outro no meu trabalho de dezoito horas diárias para poder pagar um sonho que jogou ele no vento e essa poltrona usada de couro autêntico que meus amigos hares odeiam e essa exótica mesinha de centro em junco indiano que apóia vossos fatigados pés descalços ao fim de mais uma semana de batalhas quase inúteis e fantasias escapistas.


Mas tentamos tudo, eu digo, e ela diz que sim, claaaaaaaro, tentamos tudo, inclusive trepar, porque tantos livros emprestados, tantos filmes vistos juntos sobre Avalon , tantos pontos de vista sócio político artístico filosófico existenciais e bababá em comum só podiam dar mesmo nisso: cama. Realmente tentamos, mas foi isso que voce fez . Que foi que aconteceu, eu pensava depois acendendo um cigarro no outro, e não queria lembrar mas não me saía da cabeça os bicos do teus seios que nem sequer ficaram duros, pela primeira vez na vida, você disse, e eu acreditei, pela primeira vez na vida, eu disse, mas não sei se você acreditou. Quero dizer que sim, que acreditei, mas ela não pára, tanta tesão mental espiritual moral existencial e nenhuma física, e eu não queria aceitar que fosse isso: éramos diferentes, ai como éramos diferentes, éramos melhores, éramos mais, éramos superiores, éramos escolhidos, éramos vagamente sagrados, mas no final das contas os bicos dos teus peitos não endureceram cultura demais mata o corpo da gente, mocinha , filmes demais, livros demais, palavras demais, só consegui te possuir quando voce resolveu ser vagamente fiel uns tempinhos o que pra voce foi quase um milagre , tinha a biblioteca de Alexandria separando nossos corpos, noite após noite pedindo seremos sempre mais fundos, coração, explode junto comigo, depois virava de bruços e chorava no travesseiro porque naquele tempo ainda tinha um vago desejo nao reciproco de viver pra sempre , mas agora tudo bem, o Relatório Hite liberou tua vigens teias e trilhas. Não que fosse amor de menos, você dizia depois, ao contrário, era amor demais, você acreditava mesmo nisso? Naquele bar infecto de Sao Paulo onde costumávamos afogar nossas impotências em baldes de lirismo juvenil, imbecil, e eu disse não, o que acontece é que como bons-intelectuais-pequeno-camponeses de cidade pequena o teu negócio é homem e o meu é mulher, podíamos até formar um casal incrível, tipo aquela amante de Virginia Woolf, como era mesmo? Vita, Vita Sackville-West e o veado do marido, não se erice, queridinho, não tenho nada contra veados, me passa a vodka, o quê? e eu lá tenho grana pra comprar wyborowas? não tenho nada contra tuas teias e noitadas trilhas "etc" , não tenho nada contra decadentes em geral, não tenho nada contra qualquer coisa que soe a: uma tentativa. Peço cigarro e ela me atira o maço na cara, com que joga um tijolo,porque agora só fuma escondida da Igreja ando angustiado demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia, dois anos e meio de convívio cotidiano, mas ando, ando, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, atua , o nosso amor ,veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz contigo mocinha .



Podia ter dado certo entre a gente, ou não, afinal você naquele tempo ainda não tinha se decidido pra variar , , ai que gracinha nossa fotinho de maos , depois Nando , depois Paulo Coelho , depois a estrada , depois sacolas de super embaixo do braço, aqueles sonhos colonizados nas cabecinhas idiotas, bolsas em Sao Paulo , chás com Simone e Jean-Paul nos coraçoes , a gente aqui, mastigando essa coisa porca sem conseguir engolir nem cuspir fora em esquecer esse gosto azedo na boca. Já li tudo, mocinha , já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação Cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora o que faço? Não é plágio do Pessoa, mas em cada canto do meu quarto tenho uma imagem de Buda, uma de mãe Oxum, outra de Jesuzinho, um pôster do Cazuza , às vezes acendo vela, faço reza, queimo incenso, tomo banho de arruda, jogo sal grosso nos cantos, não te peço solução nenhuma, você vai curtir os seus nativos das tuas trilhas , bares e praias depois me manda um cartão-postal contando qualquer coisa como ontem à noite, à beira do rio, deve haver um rio por ai, uma banheira quem sabe , uma cama com rosas um rio lodoso, cheio de juncos sombrios, mas ontem na beira do rio, sem planejar nada, de repente, por acaso, encontrei uma moça de tez azeitonada e olhos oblíquos que. Hein? claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, ,a questão é onde, ,não nesta cidade pequenina , não neste planeta podre e pobre, dentro de mim? Ora não me venhas com autoconhecimentos-redentores, já sei tudo de mim, tomei mais de cinqüenta ácidos fiz alguns anos de análise, já pirei de nada , lembra? você me levava maçãs argentinas e cozinhava em 15 minutos , , eu te olhada entupido de mandrix e perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, "solidária" e positiva, aperta os ombros nas tuas danças com sua mão


apesar de tudo viril o coraçao grita sabia? em cada amanhecer nas longas noites de feira repetindo reage, companheiro, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária, bababá bababá. As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente, , as noites não terminam nunca, ninguém me toca,nao sou como voce....


mas eu reagi, despirei, e cadê a causa, cadê a luta, cadê o potencial criativo? Mato, não mato, atordôo minha sede com doses de saque ou encho a cara sozinho aos sábados esperando o telefone tocar, e nunca toca, ouvindo mantras indianos , loreena e blues com caipira de vodka, neste sitio que pago com o suor do tal potencial criativo .


Mas eu quero dizer..... e ela me corta mansa, claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca, me passa o cigarro, não estou desesperada,to escondida de todos , da igreja que me comprou.... ,não mais do que sempre estive, não estou bêbada nem louca, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, não se preocupe, depois que você sair tomo banho frio, lente quente com mel de eucalipto e gin-seng, depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a ban-chá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, pois sou minhas imagens .......nao viu: todo mundo acredita , voce nao??


depois voce tomo outro porre, amanhece na feira ou na tua horta , bate o carro numa esquina não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma?


Passa devagar a tua mão na minha cabeça, no meu coração, eu tive tanto amor um dia sabia?


pára e pede, preciso tanto, tanto, tanto, bicho, não me permitiram, então estendo os dedos e ela fica subitamente pequenina apertada contra meu peito, perguntando se está mesmo muito feia e meio puta e muito velha e completamente bêbada, eu não tinha essas marcas em volta dos olhos, eu não tinha esses cabelos brancos na barba...


mas eu besta que sempre fui repito que está linda assim, desgrenhada e viva, ela pede que eu coloque uma música e escolho as nossas musicas de sempre quero deixá-la assim, dormindo no escuro, sobre este sofá, ao lado das papoulas quase murchas, embalada pelo piano remoto como uma canção de ninar, mas ela se contrai violenta e peded que eu ponha forro outra vez, então viro o disco, amor meu grande amor,


não esqueça então de mandar um cartão das trilhas , das estradas ou dos bares, aqueles braços abertos , aquela tez azeitonada, que aconteça alguma coisa bem bonita para você, te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em todos de novo, que leve para longe da minha boca esse gosto podre de fracasso pela tua traiçao , de derrota sem nobreza, não tem jeito, companheira, nos perdemos no meio da estrada que criastes sem ao menos eu imaginar a mais de ano e nunca tivemos mapa algum,ele existia no meu desejo, no meu sonho e na minha alma apenas....

ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando. A chave gira na porta. Preciso me apoiar contra a parede para não cair. Atrás da madeira, misturada ao piano e à voz rouca que me sobrou destas noites frias da montanha , nem que eu rastejasse até a Pedra do Bau ,nao consigo ouvi-la repetindo que existe um amor imenso e que tudo vai bem,



tudo continua bem, tudo muito bem, tudo bem. |

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