Pequenso detalhes......

" E la em baixo....uma rede de anjos amparava nossa
queda... (Caio Fernando Abreu )











quarta-feira, dezembro 05, 2012

A paixão é um porre. Ninguém mantém suas atitudes, conserva suas latitudes. A paixão é uma pane. Só vai conquistá-la a partir de constrangimento público, chamando seu par para dividir um vexame. Terá que convidá-la a dançar na rua sem som nenhum, ou gritar seu nome desesperadamente na parada do metrô, ou beijá-la no meio de um bar como se não houvesse gente alguma querendo passar pelos corredores. É necessário escandalizar os passantes, é necessário um público incrédulo e invejoso que não entenda o que vocês estão fazendo. Ambos andarão na contramão da hora e do espaço, isolados na própria alucinação, resguardados pela onipotência do desejo. O desatino é o pedágio da conquista. Você vai se ajoelhar numa faixa de segurança, pedir esmola para bancar o engraçado, criar diálogo de marionetes com cachorros-quentes. É estranho concluir que nos habilitamos para o relacionamento sendo inconsequentes. O conservadorismo não tem chance. A caretice não merece sala. No amor, podemos pedir a mão ao destino. Na paixão, pedimos a mão dela para mergulhar no abismo. Será um rompante que sustentará o futuro, determinará o súbito endividamento do passado. Você pode encarnar um tipo educado, culto, estável, sensível, nada disso contará a seu favor. O que arrebata a mulher é o quanto pode enlouquecer por ela. É um desvio de seus bons modos, uma coragem inusitada, um apelo à espontaneidade que definirá o namoro. Você pode ser o mais retrógrado dos mortais, mas apaixonado sairá da linha e cometerá uma imprudência. Mesmo que seja a única de sua vida. Todos os casais guardam o dia em que se decidiram um pelo outro. E é sempre uma sandice que será lembrada com orgulho, marcará o motivo de estarem juntos até hoje. Representará a demonstração de seu desprendimento, um duelo onde a palavra venceu a aparência e a irreverência superou o julgamento moral. Paixão é quando dissemos: dane-se o mundo, e sigamos com o nosso instinto. É uma breve e inesquecível alforria dos olhos. Você nadará nu numa piscina, descerá as trilhas de uma floresta no escuro, cantará músicas francesas no muro do viaduto. É o momento em que os dois provam que estão preparados para a maior loucura que um casal é capaz de experimentar dali para frente: dividir normalidades........

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