Não seria necessária mais nenhuma palavra um segundo antes ou depois de dizerem ao mesmo tempo: — Quero ficar com você...
Pequenso detalhes......
" E la em baixo....uma rede de anjos amparava nossa
queda... (Caio Fernando Abreu )
queda... (Caio Fernando Abreu )
terça-feira, abril 17, 2012
PARA MARTA FONTES
Eu tinha vivido alguns anos e era louco por uma "guria " com quem trocava olhares, não mais que isso. Ela era o legítimo "muita areia pró meu caminhão" e jamais acreditei que pudesse vir a se interessar por mim, o que me deixava ainda mais apaixonado, claro. Librianos adoram um amor impossível......
Então chegou o dia do meu aniversário. No final da manhã eu estava em casa, contando os minutos para uma festa que daria à noite, quando um querido amigo la do Sul apareceu com um cartão nas mãos, dizendo que tinha encontrado embaixo da porta da casa . Abri e fiquei azul, verde, laranja: era dela! Corri para o telefone e liguei para a meu melhor amigo. "Que trote bobo, você quase me mata de susto, pensa que não sei que foi você que escreveu o cartão?" Ele jurou por todos os santos que não. Liguei para outra amiga. "A letra é igual a sua, eu sei que foi você!" Não tinha sido. Liguei para uma outra amiga : "Você acha que eu vou acreditar que uma menina tao linda que nunca me disse bom dia veio até aqui largar um cartão amoroso desses?" Ela me recomendou terapia. bom, diante de tantas negativas, só me restou pensar: "Outra
hora eu descubro quem é que está tirando uma comigo".
E esqueci o assunto.
Semanas depois estava caminhando na praia onde morava quando encontrei a dita cujo. Ela resmungou um oi, eu devolvi outro oi, e então ela perguntou se eu havia recebido o cartão de aniversário. Minha pressão caiu, minhas pernas fraquejaram, eu só pensava: mas que idiota eu fui! O que iria responder? "Recebi, mas jamais passaria pela minha cabeça que uma " guria " espetacular como você, que pode ter o homem que escolher, fosse entrar numa papelaria, comprar um cartão, escrever um texto caprichado, depois descobrir meu endereço e então pegar o carro, ir até a minha rua, colocar o envelope embaixo da porta feito uma louca , e aí voltar para casa e aguardar meu telefonema. Olhe bem pra mim, eu não mereço tanto empenho."
Respondi: "Que cartão?"
Ela soltou um "deixa pra lá" e foi embora naquele fim de tarde na praia , molhada de mar se sentindo o mais esnobada das mulheres . E assim terminou uma linda história de amor que nunca começou. Anos depois nos encontramos casualmente e tivemos um rapidíssimo affair, mais aí já não éramos os mesmos, não havia clima, ficamos juntos apenas para ver como teria sido se. Vimos.
E não escutamos sinos, não fomos flechados pelo Cupido. Cada um voltou para a sua vida e nunca mais tivemos notícia um do outro.
Contei essa história para uma amiga outro dia e ela comentou que conhecia outras homens e mulheres assim. Epa, assim como? Ora, assim medrosos, desconfiados, temendo pagar micos diante da vulnerabilidade que toda paixão provoca. Ela estava certa. Era assim mesmo que eu me sentia aos dezessete anos: medrosa e incapaz de levar um grande amor adiante. Quando recebi o tal cartão, deveria ter ligado imediatamente para a menina encantada para agradecer e convidá-la para a festa.....
E se ela tivesse dito: "Que cartão?"
Eu responderia: "Deixa pra lá, mas venha à festa assim mesmo". E então eu assumiria as consequências, não importa quais fossem. O nomezinho disso: vida. É sempre uma incógnita, portanto não vale a pena tentar fugir das decepções ou dos êxtases, eles nos assaltarão onde estivermos. Se você for uma pessoa boba como eu fui, acorde. Ninguém é muita areia pra ninguém. Pessoas aparentemente especiais se apaixonam por outras aparentemente banais e isso não é um trote, não é uma pegadinha, não é nada além do que é: um inesperado presente da vida,
que todos nós merecemos.
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