
Não seria necessária mais nenhuma palavra um segundo antes ou depois de dizerem ao mesmo tempo: — Quero ficar com você...
“ Louco é aquele que queria pôr fim à loucura do amor, Porque o sol correrá como cavalos ...assim como as emoçoes....selvagens...., A terra extrairá trigo da cevada, A corrente fluirá ao encontro da fonte E antes que o coração conheça a moderação, Os peixes nadarão em rios secos.”
(ENSINAMENTO ANCESTRAL)
leve consigo o Amor - para onde for - ele é teu. Ninguém tira ou diminui... Amor se compartilha. E quem não sabe disso e não retribui ou se doa, só aprisiona seus próprios sentimentos, não é livre. Sê feliz por ti. Se dê Amor hoje... em pequenas manifestações de carinho com você. E a chave do coração, não se entrega.... A gente só abre a porta para quem bate....
Deixa-me Enlouquecer
Ó incomparável Doador da vida, libera-nos da razão enfim!
Deixa-a vagar com os olhos cinzas entre as vaidades.
Quebra o meu crânio, derrama nele o vinho da loucura.
Deixa-me enlouquecer como Tu; enlouquecer em Ti, conosco.
Além da sanidade dos tolos está um deserto ardente
Onde o teu sol está girando em cada átomo:
Amado, arrasta-me até lá, deixa-me arder em Perfeição!
JALALUDDIN RUMI
Era mais alta que eu, desbocada à beça e estava atenta a tudo que estava acontecendo naquela balada pura ostentação que tocava eletrônico e não era nada a minha cara. Era maio também e assim que ele virou as costas, ela atacou o meu braço pra confirmar uma suspeita que já havia roubado algumas noites e criando uma colônia de pulgas atrás das minhas duas orelhas. Eu era o cara mais chifrudo do mundo e deveria saber. Por quem? Quando começou? Onde? Com você? Mais não disse, mas falou do nosso porta-retratos no quarto dela e que eu deveria abrir meu olho. Não foi necessário.
Rolou uma confusão à altura: primeiro o choque, depois o choro, o empurrão e ouvi da minha, então, companheira "vai embora, tu tá estragando a minha festa". Os meses que se seguiram demoraram a cicatrizar. Foi foda, muito foda, mesmo. Em meio ao turbilhão, eu tinha um então ex-namorado que negava tudo - só admitiu quando consegui algumas provas, horror dos horrores - e descobertas sem fim de outros casos, affairs e afins que o dito encobria. Eu era traído e, pior: pra cacete, adoidado, corno do milênio. A gente pensa que nunca vamos fazer parte do time dos premiados, mas a verdade atravessa o peito feito bala perdida no alvo certo: ninguém espera.
Ciente da minha condição, comecei a relembrar situações que deveriam ter servido de alerta pra que eu ficasse de orelhas em pé: o fato de ela levar o celular sempre junto, até mesmo pra ir ao banheiro, eu não poder mais usar seu computador, a agressividade, que havia aumentado horrores nos últimos meses, e o desinteresse, que só crescia e crescia - e quanto mais eu ficava desesperada por ele fermentar, o fosso entre nós dois aumentava; o que descobri na análise ser típico dessas situações: quanto mais a gente vai atrás e tenta consertar a merda, mais ela fede.
Faz exatamente dois anos e hoje consigo falar disso com tranquilidade, sem rancor na voz ou qualquer pontada de descontentamento. Porém, se existe algo que me trava e evitaria a qualquer custo é fazer outra garota passar pelo pesadelo que eu tive que encarar, sem chance de escolha. É óbvio, a culpa é do homem. Sempre. Quem tem algum tipo de compromisso com a outra mocinha é o cara, logo, quem deve lealdade e consideração, é ele. Sem dúvida. Longe de mim querer eximir a responsabilidade de quem dá sua palavra e firma um acordo tácito entre duas parte. Mas, poxa, se sei que ninguém vai sair bem desse tipo de situação e que raramente existe "final feliz" para qualquer que seja o casal do triângulo, por que diabos me meteria nessa?
Sei que, na vida real e na maioria dos casos, a culpa quase sempre recai sobre os ombros da mulher. Piranha, vagabunda, ladra de homem; escutamos muitas dessas babaquices quando casais famosos ou de amigos passam por esse inferno. Contudo, eu queria apenas que, como mulher, a outra guria pensasse em mim também. Um segundinho só, rapidão. Que existe alguém sendo feita de trouxa, que poderia ser ela no futuro, que se o cara fala mal pelas costas e mente descarado pra pessoa que passa finais de semana e apresenta pra família, que respeito ele teria por uma foda ocasional? É isso que me faz refletir toda vez que uma mulher comprometida vem tentar a sorte por aqui: é saber o quão tenebroso é pensar que viveu uma mentira e não conseguir mais confiar em ninguém por ter o peito mutilado, inoperante.
O que eu gostaria de pedir, de coração, é menos egoísmo em falar "ah, mas eu sou livre e desimpedido, ela que se preocupe" e mais empatia em ponderar "mas e se fosse eu? será que já foi comigo? ele tem namorada e no final quem vai sair mais ferido desse tiroteio talvez seja eu, talvez seja ela. ele é que não vale o que come". Se serve de consolo, eu hoje não encaro mais traição como o fim dos tempos e acredito que há uma diferença gritante entre manipular situações e levar adiante um caso e ser infiel por uma noite e nada mais. A outra sumiu da minha vista tão logo quanto apareceu, nunca mais vi. Ela, a mminha então namorada, nunca me pediu desculpas - e também não cruzamos por aí, em circunstância nenhuma.
Hoje eu estou bem, mais maduro e completamente grato por já ter engolido o tormento e ter tirado só crescimento disso. Posso assegurar que se depender de mim, miga nenhuma vai precisar se defrontar com o pânico de não saber quem é, o que vive, onde está.....
Loving kindness toward ourselves doesn’t mean getting rid of anything. The point is not to try to change ourselves. Meditation isn’t about throwing ourselves away and becoming something better. It’s about befriending who we already are…that’s what we study, that’s what we come to know with curiosity and interest
Pema Chodron
Entre os ramos cobertos de flores havia uma espécie de vão, uma fresta, uma porta, e eu fui entrando por ela até ficar dentro daquela coisa colorida. Era escuro lá dentro. Era cheio de galhos trançados e torturados, e muito escuro, e muito úmido, parecia assim ter feito uma grande dor ali cravada naquele centro cheio de folhas apodrecidas e flores murchas no chão. Pelo vão, pela fresta, pela porta eu conseguia ver o sol lá fora. Mas aquele lugar era longe do sol. Era uma coisa, uma coisa assim desesperada e medonha, você me entende? Então pensei em sair lá de dentro imediatamente, sem olhar para trás, mas ao mesmo tempo que queria ir embora, queria também ficar para sempre lá, e se me descuidasse, se alguma coisa mínima em mim perdesse o controle eu me encolheria ali naquele chão frio, olhando os galhos tão emaranhados que não passava nunca um fio daquela luz do sol lá de fora.....